Família Monteiro

15/01/2014

HISTÓRIA
Dona Rita Monteiro: Primeira comerciante de Várzea Grande.
Era na (hoje) Avenida Couto Magalhães, o primeiro investimento, localizado logo depois da Praça Aquidaban.

Repórter: Wilson Pires
Foto: Acervo
Fonte: SECOM

Várzea-grandense de nascimento (Capão Grande, 25 de maio de 1.916), dona Rita Monteiro (1916-2004), recordava com satisfação da Várzea Grande de 1930. “Naquele tempo, não se falava em crise econômica no país”. Mãe de oito filhos, ela destacava que sempre trabalhou ao lado do marido, Heroclito Leôncio Monteiro. Foi uma das primeiras comerciantes da “Terra de Couto Magalhães”.
Apesar de toda renovação de Várzea Grande, dona Rita de Oliveira Monteiro, uma das primeiras comerciantes da terra de Couto Magalhães, recordava com saudades da Cidade Industrial de 1930. “Mesmo com dificuldades reinantes na época, Várzea Grande sempre foi uma terra acolhedora”, ressaltava. Nascida no Distrito de Capão Grande, Dona Rita Monteiro sentia prazer em afirmar que a sua primeira professora, na Escola Adalgisa Gomes de Barros, foi a senhora Petrolina. “Ela morava no Capão de Pequi”, dizia.
Após cursar o primário, dona Rita veio morar no centro de Várzea Grande. Concluiu Admissão. Posteriormente, foi nomeada professora, no governo de Júlio Muller. Lecionou por três anos no Capão Grande. Em 1936, casou-se com o gaúcho Heroclito Leôncio Monteiro, um dos primeiros que aportou em terras Várzea-grandenses.
Devido às dificuldades iniciais, principalmente para os moradores de Várzea Grande, dona Rita Monteiro, ao lado do marido, montou um bolicho. “Vendíamos de tudo, de pinga até produtos agrícolas”.
Era na (hoje) Avenida Couto Magalhães, o primeiro investimento, localizado logo depois da Praça Aquidaban. “Tudo era difícil, não tinha energia aqui, nem asfalto e o que era pior, a travessia do rio Cuiabá era feita de balsa”, lembrava.
Dona Rita lembrava com orgulho daquele tempo. A crise financeira do país, por exemplo, nem se comentava. “Nós vendíamos tudo por litro, inclusive, arroz, feijão e querosene”.
O que faltava em Várzea Grande tinha que vir de Cuiabá. Para atravessar o rio, de balsa, ela recorda que era preciso desembolsar 300 réis. “Isso só para ir”. O comando da balsa era de Dito Leite, e os passageiros pagavam para ir e voltar.
Dos bolicheiros mais antigos daquela época, dona Rita recordava das famílias de Miguel Baracat e Pedro Mussa.
Energia - Sobre a chegada da energia elétrica, em 1948, dona Rita também lembra com orgulho. Foi o motivo de festa, dizia. Mas o fato conforme ela foi o grande esforço da professora Adalgisa de Barros. “Ela realizou vários eventos para angariar recursos visando a conclusão da rede de energia elétrica. Com esses recursos, a professora Adalgisa de Barros conseguiu, inclusive, comprar os postes. Ela faleceu e não teve o prazer de ver este benefício chegar a Várzea Grande”.
Quanto ao asfalto, foi no governo de Júlio Campos, à frente da Prefeitura, “que tivemos o primeiro trecho asfaltado por aqui”. Bem antes de ser município, só existia uma Rua em Várzea Grande. “Era a que vinha do Porto”. O restante, apenas caminhos.
Política - No que se refere à vida política do município, dona Rita Monteiro enfatizava que a nomeação do primeiro prefeito, Gonçalo Romão de Figueiredo, ocorreu na varanda de sua casa. O local era tido, na época, como o centro de reuniões dos políticos. Após Gonçalo Romão, o primeiro prefeito eleito do município foi Gonçalo Botelho, dizia. “Meu marido sempre trabalhava na política e foi, inclusive, vereador por um mandato”.
Da união com o gaúcho Heroclito Leôncio Monteiro, dona Rita Monteiro teve oito filhos: Lenita, Avelino, Ironita, Lia, João, Décio, Nelita e Ernane.
Divertimento - O lazer da época, principalmente nos finais de semana, conforme dona Rita, eram os bailes. “Tinha uma orquestra muito boa em Várzea Grande, comandada pelo senhor Inocêncio. Eles chegavam a tocar em dois, três aniversários numa só noite”. Um dos músicos da orquestra, que tocava flauta, ainda estava por aqui até pouco tempo. Era Júlio Corrêa, conforme dona Rita Monteiro, os bailes iam até de madrugada e a animação era geral. Além dos tradicionais bailes, ela recordava das festas de Nossa Senhora da Guia, de São Sebastião, esta na casa da dona Aurélia: e Santo Antônio, na casa da Maria do Rosário, que tinha como destaque o Cururu e Siriri.
Maior dificuldade - Entre as dificuldades da época, a que mais castigava os moradores, segundo dona Rita, era a falta de água. “Tínhamos que buscar água no poço ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Guia”, hoje próximo ao Ginásio Fiotão. A dificuldade era tamanha nesse setor que os proprietários de animais, por exemplo, eram obrigados a deslocar-se até o tanque do Embaúval, para dar água e lavar os animais.
O carro existente na época, que inclusive fazia a linha até o Porto, era uma Kombi do senhor Bertides. “Era só encher o carro aqui e levar até a balsa”. Porém, os problemas e dificuldades não foram suficientes para desanimar dona Rita. Sobre a opção comercial, ela recordava que com muito sacrifício e economia, foi possível comprar o prédio próprio onde funcionava a Casa Monteiro – Avenida Couto Magalhães nº 1.956 – próximo ao Banco do Estado de Mato Grosso (Bemat). Mais tarde a decisão ficou somente em torno do ramo de tecidos (em peças), redes e obras de artes regionais.
Tradição - Uma tradição secular foi seguida à risca por dona Rita Monteiro e o seu filho Ernane, que segue com a tradição, vendendo redes, viola de cocho e muitos outros artesanatos regionais, inclusive ensinando como tecelar redes, no Museu do Rio, nos dias de hoje, em Cuiabá.
Vale ressaltar, que uma tradição se incorporou a cultura do município e do Estado: a tecedura de redes.
Ernane de Oliveira Monteiro é o estilista das redes que são confeccionadas pelas artesãs. Em geral, procura criar seu trabalho em cima dos motivos tradicionais de Mato Grosso, que vai desde os desenhos de Araras, até o brasão do Estado.
A rede, na opinião de Ernane, é um dos poucos artesanatos que exige muito trabalho. Para finalizar uma rede, destaca, é preciso de 30 a 60 dias. Outro detalhe, segundo ele, é que falta estímulo às redeiras por parte dos poderes públicos.
Dona Rita de Oliveira Monteiro, morreu aos 88 anos, no dia 10 de dezembro de 2.004, mas a tradição da família continua pela persistência de seus filhos e netos.